Prédio da antiga Estação Ferroviária de São Borja |
Nas proximidades de uma pracinha simpática, na rua sete de setembro, na entrada do bairro Itacherê, que encontrei no fundo da rua, no meio de algumas árvores, o prédio da antiga estação férrea da cidade de São Borja. A curiosidade me alimentava.
Em cima dos velhos trilhos, observei tudo ao redor. O silêncio da rua e o fim da tarde me trazia um ar bucólico. Entusiasmado pela vontade de saber o que me esperava, comecei a fotografar. Decidi me aproximar e percebi que uma das janelas do prédio estava quebrada. Deu para observar seu interior e visualizar o abandono do lugar. A imaginação me levou a época em que a estação funcionava e era abrigada pelos passageiros. A bilheteria onde as passagens eram compradas, as escadas que davam acesso ao segundo andar, tudo me motivou a entrar nessa viagem ao tempo.
Segui na caminhada e ao lado, um pequeno portão de ferro estava aberto dando acesso à parte dos fundos da estação. Com a câmera na mão, registrei tudo. A sensação de abandono continuava. Tentei abrir uma das portas para entrar no prédio, mas não obtive sucesso. Estava bem fechado. Não contente, eu olho para cima e vejo a possibilidade de ter acesso ao segundo piso. Vejo se consigo subir pelas grades da janela e escalar até o parapeito da sacada. Temendo cair, neste exato momento, surge um guri experiente na tarefa de subir prédios abandonados. Ele ensina onde colocar o pé e a mão para não cair.
Tomado pela coragem que o guri me impôs, eu vou seguindo as recomendações a risca. Um pé de cada vez e a atenção com as mãos, permitem a chegada ao topo. Com um sorriso feliz e aliviado, misturado ao medo, começo a fotografar lá de cima. Observo algumas precariedades na construção, pedaços de madeira podre e vestígios de alguém que já morou naquele lugar. A janela entre-aberta elucida essa ideia e faz a imaginação mergulhar. O perigo e a sensação de descoberta fazem a realidade vir à tona.
O sol quase se pondo, avisa que é hora de ir embora. Voltando ao ponto de chegada, é a vez de descer. Com os pedaços da construção caindo no chão, parece que é uma aventura de alguém que está no cume de uma montanha de verdade. Com a mesma atenção e cuidado da subida, desço mais aliviado e chego à terra firme. Está quase noite, o tom vai mudando e a pergunta surge: Será um prédio mal assombrado? Não fiquei ali para descobrir. Preferi sair com a certeza de que várias histórias existem nesse lugar, onde muitas pessoas deixaram sua marca, indo e vindo no tempo.
Datado do ano de 1929, com influência dos imigrantes europeus e de uma arquitetura semelhante a outras estações da região, em 1938 a ramal que vinha de Dilermando de Aguiar, na linha Porto Alegre - Uruguaiana chegou até São Borja. Até 1981 existiam trens de passageiros até a cidade. No ano de 2004 a casa estava ocupada por um antigo ferroviário que morava com seu pai. Deixando o local para o executivo da cidade tomar conta e transformá-lo em centro cultural, algumas pessoas tentaram se instalar no prédio: sem sucesso. Atualmente administrado pelo DAC (Departamento de Assuntos Culturais), é um patrimônio local rico na história de toda uma geração.