Tarde dessas saí para caminhar na beira da praia, pensar na vida, admirar aquele marzão e depois contemplar o belo pôr-do-sol. Andava lá pela casinha de salva vidas número doze, quando me dei conta da quantidade de pessoas na areia. Até então não havia percebido, pois estava bem concentrado na tarefa de pensar em mim. Mas não é que aquelas pessoas desconhecidas começaram a me chamar a atenção? Cada grupo de família, um do lado do outro, preenchia cada espaço na areia. Com seu guarda-sol colorido ou de uma cor só, jogando, comendo, conversando, rindo ou apenas quietos. Cada família com suas histórias, todos com o bem comum de curtir aquela tarde de praia. Queria saber o que eles tinham pra contar, se eu poderia tirar dali alguma história interessante. Mas não é que deu uma vontade de comer um milho? O sol tava alto e as minhas costas ardiam. Lembrei que me esqueci de passar o protetor. Metade do caminho já andado eu não voltaria. O milho tava mais perto. Seguindo meu caminho, percebi que já tinha seguido o bastante pra poder sentar e começar a minha meditação. E foi isso que fiz. Com meus chinelos já gastos pelo uso, agachei e sentei de frente pro mar. Não hesitei em estar no meio do caminho e com minha solidão, cruzei as pernas e comecei a pensar. Pensei, pensei e só sabia pensar no bendito milho. A vontade de comer tava dando lugar à fome mesmo. Olhei pros dois lados e cadê o guri do milho? Nada dele aparecer. Olhava pra um lado, pra outro e nenhum sinal do carrinho. Voltei então pro meu estado de contemplar o marzão, quando ouço um grito de longe: - Olha o milho aeeee! Na hora eu me virei, levantei e procurei pelo grito. Ali perto do guarda-sol laranja vinha um carrinho de milho. Parei e no mesmo instante, o piá de uns 14 anos me solta:
- Hoje tá brabo de pegar uma “mina”! Desde cedo não consegui nada.
Eu ri e aproveitei a situação de intimidade que o guri me proporcionou. Todo atrapalhado em me atender e contar a sua história, ele me contou que tava difícil aquele dia de vendas e que antes de chegar a praia ele e um amigo se meteram numa confusão no ônibus e ele tinha que se cuidar pra não ser pego. Pediu pra eu escolher o milho e eu disse que podia ser qualquer um. Já no fim da tarde, aquele milho já não estava quentinho. Pedi uma água sem gás. Ele continuava contando da dificuldade de ‘pegar uma mina’ e eu dava motivação pra ele:
- Logo mais em frente tu consegues uma, tem bastante praia ainda.
E ele:
- É verdade, quase consegui antes, tava quase lá, mas a vó dela tava por perto, aí não deu.
E eu:
- Poxa cara, mas não desiste, vai em frente!
Então eu lhe dou o dinheiro e o guri atrapalhado e nervoso pra encontrar uma ‘mina’ e com um receio de ser pego pelo cara do ônibus, me dá o troco. Espero ele se dar conta que deu errado, e não se dando conta eu digo:
-Te dei uma nota de dez.
- Ah é verdade, desculpa aí!
E o guri se vai, empurrando seu carrinho, mais preocupado em pegar alguma “mina”, do que vender. Naquele dia o ganho dele era a “mina”. E eu me sentei de novo ao meu lugar e comi meu milho, admirando o mar e pensando no futuro que espera o guri, se ele estuda, se tem pais, o porquê está vendendo milho. Queria saber mais sobre aquele piá, mas eu me contive. Quem sabe um dia eu encontre ele de novo e pergunte. Preferi comer meu milho mesmo. Deu sede. Ao abrir a garrafa de água, ouvi o barulhinho. Era água com gás. Dei risada e depois da fome saciada, segui com minha espera pela praia vazia, pelo vento da noite, o silêncio do mar e o pôr-do-sol. Meu ganho aquele dia era o pôr-do-sol, a “mina” eu deixo pro guri do milho!
- Hoje tá brabo de pegar uma “mina”! Desde cedo não consegui nada.
Eu ri e aproveitei a situação de intimidade que o guri me proporcionou. Todo atrapalhado em me atender e contar a sua história, ele me contou que tava difícil aquele dia de vendas e que antes de chegar a praia ele e um amigo se meteram numa confusão no ônibus e ele tinha que se cuidar pra não ser pego. Pediu pra eu escolher o milho e eu disse que podia ser qualquer um. Já no fim da tarde, aquele milho já não estava quentinho. Pedi uma água sem gás. Ele continuava contando da dificuldade de ‘pegar uma mina’ e eu dava motivação pra ele:
- Logo mais em frente tu consegues uma, tem bastante praia ainda.
E ele:
- É verdade, quase consegui antes, tava quase lá, mas a vó dela tava por perto, aí não deu.
E eu:
- Poxa cara, mas não desiste, vai em frente!
Então eu lhe dou o dinheiro e o guri atrapalhado e nervoso pra encontrar uma ‘mina’ e com um receio de ser pego pelo cara do ônibus, me dá o troco. Espero ele se dar conta que deu errado, e não se dando conta eu digo:
-Te dei uma nota de dez.
- Ah é verdade, desculpa aí!
E o guri se vai, empurrando seu carrinho, mais preocupado em pegar alguma “mina”, do que vender. Naquele dia o ganho dele era a “mina”. E eu me sentei de novo ao meu lugar e comi meu milho, admirando o mar e pensando no futuro que espera o guri, se ele estuda, se tem pais, o porquê está vendendo milho. Queria saber mais sobre aquele piá, mas eu me contive. Quem sabe um dia eu encontre ele de novo e pergunte. Preferi comer meu milho mesmo. Deu sede. Ao abrir a garrafa de água, ouvi o barulhinho. Era água com gás. Dei risada e depois da fome saciada, segui com minha espera pela praia vazia, pelo vento da noite, o silêncio do mar e o pôr-do-sol. Meu ganho aquele dia era o pôr-do-sol, a “mina” eu deixo pro guri do milho!