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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Descobrindo a estação

Prédio da antiga Estação Ferroviária de São Borja
     Nas proximidades de uma pracinha simpática, na rua sete de setembro, na entrada do bairro Itacherê, que encontrei no fundo da rua, no meio de algumas árvores, o prédio da antiga estação férrea da cidade de São Borja. A curiosidade me alimentava. 

Em cima dos velhos trilhos, observei tudo ao redor. O silêncio da rua e o fim da tarde me trazia um ar bucólico. Entusiasmado pela vontade de saber o que me esperava, comecei a fotografar. Decidi me aproximar e percebi que uma das janelas do prédio estava quebrada. Deu para observar seu interior e visualizar o abandono do lugar. A imaginação me levou a época em que a estação funcionava e era abrigada pelos passageiros. A bilheteria onde as passagens eram compradas, as escadas que davam acesso ao segundo andar, tudo me motivou a entrar nessa viagem ao tempo. 

Segui na caminhada e ao lado, um pequeno portão de ferro estava aberto dando acesso à parte dos fundos da estação. Com a câmera na mão, registrei tudo. A sensação de abandono continuava. Tentei abrir uma das portas para entrar no prédio, mas não obtive sucesso. Estava bem fechado. Não contente, eu olho para cima e vejo a possibilidade de ter acesso ao segundo piso. Vejo se consigo subir pelas grades da janela e escalar até o parapeito da sacada. Temendo cair, neste exato momento, surge um guri experiente na tarefa de subir prédios abandonados. Ele ensina onde colocar o pé e a mão para não cair. 

Tomado pela coragem que o guri me impôs, eu vou seguindo as recomendações a risca. Um pé de cada vez e a atenção com as mãos, permitem a chegada ao topo. Com um sorriso feliz e aliviado, misturado ao medo, começo a fotografar lá de cima. Observo algumas precariedades na construção, pedaços de madeira podre e vestígios de alguém que já morou naquele lugar. A janela entre-aberta elucida essa ideia e faz a imaginação mergulhar. O perigo e a sensação de descoberta fazem a realidade vir à tona. 

O sol quase se pondo, avisa que é hora de ir embora. Voltando ao ponto de chegada, é a vez de descer. Com os pedaços da construção caindo no chão, parece que é uma aventura de alguém que está no cume de uma montanha de verdade. Com a mesma atenção e cuidado da subida, desço mais aliviado e chego à terra firme. Está quase noite, o tom vai mudando e a pergunta surge: Será um prédio mal assombrado? Não fiquei ali para descobrir. Preferi sair com a certeza de que várias histórias existem nesse lugar, onde muitas pessoas deixaram sua marca, indo e vindo no tempo. 

Datado do ano de 1929, com influência dos imigrantes europeus e de uma arquitetura semelhante a outras estações da região, em 1938 a ramal que vinha de Dilermando de Aguiar, na linha Porto Alegre - Uruguaiana chegou até São Borja. Até 1981 existiam trens de passageiros até a cidade. No ano de 2004 a casa estava ocupada por um antigo ferroviário que morava com seu pai. Deixando o local para o executivo da cidade tomar conta e transformá-lo em centro cultural, algumas pessoas tentaram se instalar no prédio: sem sucesso. Atualmente administrado pelo DAC (Departamento de Assuntos Culturais), é um patrimônio local rico na história de toda uma geração.

1 comentários:

Guilherme Santos disse...

Olá Felipe. Digitando no Google imagens “Estação ferroviária de São Borja” encontrei a imagem do seu blog. Cliquei nela e comecei a ler o seu texto “Descobrindo a Estação”. Gostei muito da leitura e gostaria de contribuir respondendo a sua pergunta: “Será um prédio mal assombrado?” lhe digo que SIM. Muitas histórias de pessoas que morriam nos trilhos e que voltavam para assombrar a velha estação escutei quando criança ... Ôh tempo bom ! Felipe morei em SB até meus 13 anos (hoje tenho 27). Muito brinquei com meus amigos filho de ferroviário nessa estação. Muito andei de bicicleta, patins (foi uma febre no ano de 1995),esconde-esconde. Foi uma época muito boa de minha infância que, quando saudoso, busco por recordações na internet. Prefiro ficar com as antigas imagens em minha lembrança, pois sei que hoje tudo esta mudado. Voltando um pouco ao seu texto “Não fiquei ali para descobrir. Preferi sair com a certeza de que várias histórias existem nesse lugar, onde muitas pessoas deixaram sua marca, indo e vindo no tempo “ = Felipe, com certeza nos dias de hoje você não iria descobrir muitas coisas sobre essa velha guerreira da história da cidade. Ela, por não falar, somente possui as marcas de um tempo de “ouro”. E, creio eu, se ela pudesse falar se calaria perante o que aconteceu com ela. Agora, você acertou em cheio quando publicou que muitas histórias e pessoas deixaram sua marca nesse espaço. Muitas pessoas indo, outras vindo, e algumas se despedindo num adeus para todo o sempre.
Cara, gostei do seu blog e da sua escrita. Se for ate SB, publique mais coisas sobre ela, em especial sobre a RFF (antiga) e quem sabe, fica a dica, algo sobre o colégio Arneldo Matter!
Grande abraço
Guilherme Santos
Santa Maria – RS
santos.sm@hotmail.com

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