Tu podes ir do norte ao sul, do leste ao oeste. Tudo pode acontecer. Cada experiência é um aprendizado e tanto. Falar do tempo que permaneci aqui em São Borja, sem falar dos amigos que fiz, é perda de tempo. Ahh os amigos, que bem precioso! Se pudesse, eu vivia eternamente com eles ao meu lado. Essa tarefa de ficar longe eu conheço bem. Longe da família e dos amores. Da cidade que cresci. Da noite que eu brinquei de esconde-esconde e de quando eu vi um disco voador (isso é verdade!). Fico feliz em poder dizer que sinto saudades. A saudade nos faz olhar pra trás e ver o quanto éramos felizes e não sabíamos. Aprendemos a dar valor pra tudo. Pra um sorriso, um abraço, um aperto de mão, um pão, uma fatia de presunto e meio copo de leite frio. Ah e do miojo também... (desse eu não tenho saudade). Essa experiência de morar fora de casa é maravilhosa. Tentamos domar nossos sentimentos mais funestos. As vezes conseguimos, outras não. Hoje, agora, neste momento cada música, cada lugar, cada cheiro daqui me remete a muito que eu vivi nesse um ano de Unipampa. Sinto desde já uma saudade. Mas não uma vontade de ficar. Uma vontade de ir pra frente. Crescer, partilhar, ouvir, ler, ler, ler, e dormir menos. Conhecer novos ares, novas oportunidades e o mais importante: Ficar perto de quem amo, fazendo o que eu amo! Mais uma vez eu digo e repito: Quem acredita, sempre alcança! e como sempre me lembra meu amigo João Ricardo, Somente os obstinados tem sucesso! Tem sempre algo melhor nos esperando pela frente, logo ali. Basta termos paciência. Viver nosso tempo de cada vez: aprendendo, se aprimorando e crescendo, pra quando chegar a hora estarmos preparados. Na vida a gente não perde tempo nenhum, apenas se prepara para o melhor. MUITO OBRIGADO! Se eu não tivesse passado por aqui, não teria aprendido metade (e olha que ainda falta heim). Tem mais pela frente. Levo comigo essas pessoas aí embaixo. Cada uma tem um lugar cativo no meu coração. Daqui a pouco a gente se vê!
Um livro recheado de história. Fatos inesquecíveis que a televisão mostrou. Será que tudo que vemos na telinha é a pura realidade? Nesta quarta edição, o jornalista e escritor José Arbex Jr. através da sua passagem pela Folha de São Paulo, relata algumas reportagens que fez em épocas muito importantes para a sociedade (Guerra do Golfo, Queda do Muro de Berlim, Fim da União Soviética). Várias teorias são conhecidas e a mídia é posta a prova, onde os interesses mercadológicos prevalecem. O livro discute questões sobre a sociedade da informação e os veículos de comunicação de massa que demonstram mais prestígio, poder financeiro e político.
"O leitor ou telespectador tem o dever de ser crítico e o rebelde de nossos dias." (pag 274)
No final do livro, Sérgio de Souza, diretor da revista Caros Amigos, acrescenta que o livro não é recomendável para os editores e proprietários dos veículos grandes de comunicação, nem para nós estudantes de jornalismo. Quer saber porque? Leia Showrnalismo - a notícia como espetáculo.
...oh manifestação mais linda de amor, de paz e sentimentos bons. Uma arte de sons e silêncio e só quem realmente se deixa levar por ela consegue senti-la. Aquela melodia que nos arrepia e nos leva aos mais diferentes mundos possíveis, as mais variadas lembranças e nostalgias. Momentos que ficam guardados em nosso subconsciente e quando menos esperamos, vem aquela música e nos tira do eixo. Nos faz viver tudo novamente. Dá uma vontade de voltar. Se pudéssemos voltar no tempo, será que faríamos diferente? Se tivéssemos uma segunda chance, escolheríamos o outro caminho? Não sabemos, apenas imaginamos. Viajamos. Voamos. Sonhamos. A música permite uma constelação de vontades. Se eu pudesse ter um play no meu cérebro, minha vida teria para cada situação uma trilha sonora. Mas é possível imaginarmos e isso temos de sobra. Quando ouvimos aquela canção onde nossos sentidos são totalmente despertados e surge um arrepio desde o pé até a cabeça, subimos até as estrelas e mergulhamos até o fundo do mar. Pronto: a música entrou no coração e começa a bombear todas as notas musicais na corrente sanguínea. Não adianta, não dá pra voltar atrás. Fazemos parte da música e ela faz parte de nós.
Teu sorriso vem exatamente de encontro ao meu. O teu olhar fascina e teu abraço conforta. Tua tranquilidade e lealdade me faz seguro. Talvez ainda não consiga encontrar em mim o suficiente para tal façanha. Será que é preciso sentir saudade pra ter prova alguma? Procuro respostas até antes mesmo das perguntas. Tudo o que eu preciso é de continuar acreditando, continuar na direção que me faz bem. Eu sigo meu caminho e quero trilhar contigo. Eu sou, fui e quero ser. Fé inabalável. Convicções eu tenho, só quero continuar. Não paro aqui nem lá e nem pretendo. Sou ambulante, inconstante e sem paciência. Orgulhoso e meticuloso. Vivo do futuro, do passado e quero continuar do presente. Sou feliz agora e amanhã de manhã. A chuva cai ali na janela e eu fico querendo encontrar o propósito de estar aqui sentado. Penso e sei que existo. E só existo porque tu me faz querer ser melhor, ser alguém. Fragmentos de vários eus da minha própria vida.
Voltando ao meu momento cinéfilo, mais uma dica de filme que deu certo:
Você é uma empresária bem sucedida e ocupa um dos cargos mais importantes de uma empresa. Tem dinheiro, vive em uma casa confortável, possui o carro do ano, tem a vida que qualquer um gostaria de ter. Será mesmo que você é feliz e completamente realizada? Essa é a vida de Margarida (Sophie Marceau), uma mulher de negócios que no seu aniversário de 40 anos começa a receber cartas que ela mesma escreveu quando era criança.
O filme Com amor... A idade da razão (L’âge de raison) lançado em 2010-2011 é uma produção francesa que se desenrola com a série de cartas sendo desvendadas pela personagem quarentona, fazendo sua mémória ser questionada, relembrando os planos que fazia.
O longa que tem direção do francês Yann Samuell, mostra que nunca devemos perder nossos sonhos de infância e viver em um mundo construído de falsas verdades. O caminho mais certo a seguir, sem clichê, é o do coração. Sempre.
Vale a pena conferir esse drama-romance de aproximadamente 97 minutos, que tem muitos pontos engraçados. O filme é leve e faz a gente refletir sobre a nossa vida. Ressalto uma frase de Oscar Wilde citada no final pela personagem Margarida:
“É importante ter sonhos grandes o suficiente para não perdê-los de vista quando os perseguimos”. E tenho dito!
Uma das oportunidades que a disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso II me proporcionou foi de conhecer algumas histórias sobre os trabalhadores de uma das mais antigas profissões existentes. Confira a reportagem que eu fiz sobre as Olarias em São Borja.
Os chamados tijolos de cancha
Sábado à tarde saio à procura de alguma olaria em São Borja. Pego a minha mochila e a câmera fotográfica e vou à busca de algum oleiro trabalhador. Sigo o rumo da Avenida Julio Trois e numa oficina pergunto para o mecânico se ele tem conhecimento de alguma olaria por perto. Depois das coordenadas, encontro a placa do Aeroporto e sigo a reta de asfalto. Logo mais a frente já consigo observar os tijolos que montam o forno. São mais ou menos cinco e quinze da tarde e aquele sol já não aquece com tanta vontade e o frio começa a entrar por baixo do meu casaco.
Quatro homens davam inicio a uma construção. De uma maneira tímida, eu chego devagar e olho pros lados esperando vir alguém na minha direção e perguntar o que eu procurava. Cinco minutos depois um homem com uma aparência séria e comprometida percebe minha presença naquele local. Eu sigo atento, querendo descobrir cada novidade do lugar. No silêncio, escuto os passos de Claudemir Carpes, que finalmente dá resposta as minhas dúvidas. Trabalhando um ano e meio com o irmão Josué Silva Carpes, dono da olaria há vinte anos, peço a ele que mostre como é o processo de uma das mais antigas produções: a fabricação do tijolo de cancha.
Claudemir Carpes
Composto por terra, estercos de boi ou cavalo, casca de arroz ou serragem de madeira, a mistura é para facilitar a queima dos tijolos. Antigamente o barro era sovado por cascos de animais, hoje é usado um cilindro na vertical de madeira ou metal chamado malacate. Puxado por um cavalo que gira em um eixo de 360 graus, o malacate sova o barro para depois ser transportado por carrinhos de mão até a mesa do molde. Com as mãos, o oleiro coloca o barro numa forma, tira o excesso e leva ao solo capinado e aplainado para secar no sol. Aí a origem do nome tijolo de cancha. Depois de secos, vários são empilhados formando grandes fornos. O segredo de um bom tijolo é na hora da queima.
Forno queimando os tijolos
É preciso estar atento pra não passar do ponto. Dependendo da quantidade da mescla que se faz, além do estado de umidade, a queima pode durar de vinte a trinta horas. É possível produzir por dia em torno de dois mil tijolos. O processo inteiro até a finalização demora aproximadamente trinta dias dependendo das condições do clima. No verão em quatro dias de sol o tijolo tem condições de ir pro fogo, no inverno demora mais. Não rende muito porque a chuva atrapalha. Há cinqüenta anos o pai de Claudemir, Ismail Carpes, trabalha com essa atividade.
Desde pequeno o pai ensinou os seis irmãos homens a trabalhar com tijolo. Natural de São Borja, Claudemir conta que já trabalhou numa metalúrgica em Bento Gonçalves e quis abandonar o serviço: “Eu abandonei a metalúrgica e decidi fazer meu tijolo. Andava angustiado, porque eu me criei fazendo isso”. Evitando despesas com mão-de-obra, é ele mesmo quem faz o serviço de cortar a lenha. Peço licença para fotografar o outro lado da olaria, quando volto não encontro mais ele por ali. Ele estava de volta à construção. Guardo a máquina fotográfica na mochila e sigo atrás de outra olaria por perto.
Numa casa de esquina, nas proximidades do antigo aeroporto conheci Ismail Dorneles Espíndola, de 82 anos. O senhor me convidou para entrar na casa que mora com a esposa e o neto. Há quarenta anos exercendo essa atividade, durante toda sua vida em Itaqui, trabalhou para fora e depois veio para São Borja. Depois de ter passado por vários serviços, não se adaptando, resolveu abrir sua própria olaria. Numa conversa bem à vontade, no calor da casa aquecida pelo fogão a lenha, o senhor conta que aprendeu a arte de fazer tijolos na prática com outros oleiros.
Ismail Espíndola
Atualmente ele trabalha com o genro e todos os seus 13 filhos se criaram trabalhando em olaria. Apesar de ser um serviço pesado, ele diz que gosta do que faz: “Gosto de trabalhar, os guris querem que eu venda e vá embora, mas eu acostumei a trabalhar aqui.” Com a possibilidade das olarias terem fim, por não ser um serviço legalizado pela falta de união da categoria, ninguém quer trabalhar sem carteira assinada. “Se a gente legalizar, trabalhamos mais seguro pra mim e pra pessoa que trabalha comigo”.
Malacate de ferro
Produzindo em média 25 mil tijolos por mês, o senhor Ismail lucra em torno de 1. 500 em cada forno. Todo o material produzido é entregue a engenheiros. Peço a ele que me leve à olaria que fica praticamente ao lado de sua casa. Num terreno privilegiado pela natureza, ele me mostra os tijolos que estão secando e o que restou do ultimo forno. No galpão onde os tijolos são moldados, os carrinhos de madeira para o transporte do barro me chamam a atenção. A forma rústica como esse trabalhado ainda é feito e permanece nos dias de hoje é uma riqueza que não se perdeu. O sol já está se pondo ao fundo da olaria. Está na hora de ir para casa.
No dia seguinte passando a Pirahy alimentos volto a minha saga. O chão batido e a paisagem da campanha me seguem até a pequena olaria do seu Olavo Lima. O são-borjense de 48 anos inteligente e muito camarada me convida a entrar no seu local de trabalho. Com a face suada e cansada, mas sempre em prontidão para qualquer resposta, há somente cinco anos ele também vive no local. Morando sozinho em uma casa de madeira simples e pequena, a maneira como ele sobrevive se equipara ao serviço dos tijolos de cancha. A moda antiga, sem energia elétrica, ele já está acostumado. ”Pra mim não é estranho porque trabalhei pra fora em lavoura e já sei como é isso”. Sempre com o sorriso estampado no rosto, ele conta que entre idas e vindas já trabalhou como vendedor, pedreiro e até locutor de rádio. “Eu trabalhava na Butuí, abria a programação de manhã cedo. Eu era um líder comunitário, então a associação do bairro teve o direito de ter um programa, aí eu fui pro rádio”. Durante quatro anos ele trabalhou e decidiu ir embora porque começou a enjoar da rotina. Aprendeu a fazer os tijolos com outros oleiros e sem saber direito começou a montar seu próprio negócio.
Ao contrário da maioria dos oleiros que exercem essa atividade de geração em geração, seu Olavo é o único da família. Separado, pai de duas filhas, ele ganha apesar dos gastos com mão-de-obra, 1.800 brutos por cada forno. Um dos motivos de trabalhar com essa forma artesanal é pela questão do investimento não ser alto. Se tivesse outra forma de capital, ele não trabalharia com isso. Apesar da rotina, seu Olavo diz que gosta do trabalho: “É cansativo, mas eu gosto desse trabalho, eu canso, mas não mental. Eu não trabalho com máquina, não tenho risco de lesão, então quando eu entrego tijolo, pego meu dinheiro na hora”.
Olavo Lima
Existe uma associação dos oleiros em São Borja que não é atuante pois o pessoal é desunido, cada um trabalha por si. Um dos impedimentos é a lei ambiental, pois para legalizar uma olaria é preciso de um projeto ambiental e a maioria usa terra devoluta. Olavo comprou o direito de outra pessoa que morava no terreno, mas já tem planos para se mudar devido às enchentes que podem estragar a produção. O oleiro camarada estudou até o primeiro grau e as suas experiências ao longo da vida tornaram o homem que ele é hoje em dia. Aventureiro, ele sempre gostou de mudanças. Já conheceu 49 cidades.
Ele me convidou a conhecer as outras sete olarias que existem ali perto. Uma delas era diferente. De longe observo duas figuras femininas. Um trabalho considerado dos homens perde o posto por duas mulheres dispostas e comprometidas com o que fazem. Alessandra trabalha há três anos no local. Ela, o esposo e a mãe dão sustento à olaria que era do seu pai há 14 anos. “A gente faz tudo, desde o informe, até entregar”. A moça diz que o trabalho não é difícil e que prefere fazer os dois mil tijolos a trabalhar como doméstica. No começo cortava apenas 300 tijolos. Desde pequena sempre ajudando seu pai, foi pegando gosto e hoje é a única filha que gosta de trabalhar. Acordando todos os dias às seis da manhã, Alessandra aproveita o movimento para se exercitar.
Maria Julia, mãe de Alessandra, trabalha na olaria há 24 anos e aprendeu com o marido. A opção de trabalho foi uma escolha por não gostar de ser mandada. “Eu me mando, se sair ruim, a Alessandra que reclama”. Ao contrário da filha, ela só lida com o malacate, não gosta de cortar o tijolo. Ganhando bem mais que uma doméstica é só ter vontade de fazer, que sai bem feito. Parecido com uma argila, o barro se torna uma diversão. Com o forno aceso, os tijolos estão no processo da queima. Mãe e filha provam que as mulheres podem fazer serviços ditos apenas para homens muitas vezes melhor que eles. Seu Olavo cai em gargalhada, confirmando a situação.
Mãe e filha
Voltamos para sua olaria e na companhia de dois amigos ele lê um pequeno texto sobre o tijolo. Quando trabalhava na rádio pediram para ler no ar. O título nada mais sugestivo: O tijolo. Uma homenagem ao dia do trabalhador. Um trecho do texto dizia: “O que importa é sermos continuadores de sua obra na construção do reino de Deus. Depende de você ser tijolo, reboco ou pintura”. Seu Olavo e todas essas famílias continuam a sua obra de construir e ser um tijolo melhor a cada dia que passa. Hoje existem na cidade aproximadamente 40 olarias que geram renda para mais ou menos 150 operários.
Olavo Lima tirando o barro para o molde
Essa é uma das oportunidades que o jornalismo proporciona. Conhecer pessoas e histórias. Agradeço ao Humberto Begot pelas fotos. Até a próxima!
Esse é um dos trechos mais conhecidos do livro O Pequeno Príncipe. Fui descobri-lo não mais que uns dois anos atrás. Tarde? Não sei. Acredito que nunca é tarde para fazer descobertas. O impressionante que eu nunca consigo terminar de ler essas poucas páginas. Sempre vou até a metade. Uma das minhas missões nessas férias é chegar até o final do livro de Antoine de Saint-Exupéry. Além disso, tenho algumas outras missões para cumprir e devo fazê-las. Entendo desde já que sou responsável por muito. Não exclusivamente por mim. Tem muito por aí. Talvez viver seja uma responsabilidade maior que te possibilita pequenas responsas no dia-a-dia. E vem desde as mais simples até as mais sérias. Isso é bom demais. Presta atenção na tua volta e vais ver que muito dos teus problemas são decorrentes de teus cativos anteriores. Por isso é importante cativar o que vai nos dar bons frutos em breve. Frutos deliciosos e suculentos, como aquela fruta recém tirada do pé. HUUUUUUM... Deu fome. Mas é uma verdade. Cativar bons sentimentos e boas pessoas. Cativar a si próprio também vale. Garanto que tuas responsabilidades serão tão boas de lidar e fáceis de resolver. Não será um peso. Vai ser simples. Como eu terminar de ler O Pequeno Príncipe. E nem vai demorar muito. Por enquanto eu cativo algumas pessoas na minha volta, aquelas chamadas de AMIGOS sabe? Pois é, eu tenho meus poucos e bons e não abro mão de cativá-los todos os dias. Essa é uma das minhas eternas responsabilidades.
Concentro-me aqui e não sei o que realmente escrever. Penso em várias coisas a serem ditas e nada consegue ser expressado nessas linhas. É fácil falar do que aconteceu, do que desejamos que acontecesse. Conforme vou escrevendo as palavras sem sentido, vai fluindo as idéias pra formar um texto com algum significado. Um significado pra mim, que faça refletir sobre meus próprios problemas a fim de encontrar uma solução ou algum conselho de alguém. Vou falar do tempo. Do tempo do relógio, do tempo da nossa vida, do tempo que a gente perde e do tempo que a gente pode ganhar.
Desde a última quarta-feira onde conversei com uma simpática senhora de 90 anos, tenho refletido mais sobre essa questão. Numa atividade da aula de fotojornalismo, eu e meus colegas fomos incumbidos de registrar alguém que vive no Asilo São Vicente de Paula aqui em São Borja. Chegando ao local num salão imenso cheio de vovôzinhos sentados das mais diferentes personalidades, comecei a analisar de longe cada expressão, cada movimento pra ver se eu encontrava o tal vovô. Chamou-me a atenção uma senhora sentada numa poltrona verde limão. Sempre séria, ela observava tudo em volta. Eu queria encontrar alguém com um sorriso no rosto, pensei que seria um desafio fazê-la sorrir. O professor nos liberou pra escolher e fui atrás de algum sorridente. Impressionante que meus colegas já iam direto aos escolhidos. Caminhei e nada. Até que na minha frente o sofá verde limão brilhou e vejo um sorrisão estampado na face da Dona Francina. (Será que não foi o sorriso dela que brilhou?)
O sorriso que me cativou
Pronto: Era pra ser desde o ínicio, desde que coloquei o olho nela. Fiquei tão extasiado e ao mesmo tempo com vergonha dos meus pensamentos de julgamento sobre ela. Pensei na hora: Não vou mais julgar o livro pela capa. Eu sempre bato na mesma tecla. Sempre me surpreendo.
Sentei ao seu lado e comecei a conversar. Foram as 3 horas mais bem aproveitadas dos meus últimos dias. Estava muito bem acompanhado. A inocência, a carência, a vontade de querer alguém pra conversar me cativaram deveras. E aquele sorriso que eu procurava, agora permanecia constantemente em nossa conversa. Ganhei na loteria pensei. Conheci suas acomodações, seus vestidos de prenda. Disposta a fazer as poses, ela se impressionava com minha paciência e vontade de fotografar. Sempre atento, eu prestava muita atenção nas histórias que ela me contava. Pude absorver sentimentos puros e bons.
Dona Francina, 90 anos
A lucidez de Dona Francina era algo que chamava muito a atenção. Fiz uma amiga em pouco tempo. Prometi voltar pra visitá-la. E voltei. Perguntei se ela se lembrava de mim ainda. Disse que não. Quando perguntei se ela se lembrava do guri paciente que adorava fotografar, ela deu uma gargalhada e pegou da minha mão. Fiquei feliz em saber que alguma diferença eu fiz na vida dela. Como ela fez na minha. A partir desse dia comecei a pensar no que eu realmente tô investindo nos meus dias.
O tempo sempre foi uma palavrinha que me instigou. Depois dessa experiência constatei que sempre fui fascinado por ele. Que tal a gente parar um pouco e respirar? Que tal a gente avaliar como anda o nosso tempo? Tenho aproveitado ele da forma certa? Tenho vivido como se não houvesse o amanhã?
O meu receio é chegar num certo momento, olhar pra trás e perceber que o tempo passou e eu não o aproveitei. E aí o que restará? Só o arrependimento? Quero mais que isso. Quero ler mais, quero me preocupar menos, quero ficar mais tempo com minha família e meus amigos, quero sorrir mais (como a Dona Francina), viajar mais, reclamar menos, amar mais. O dia de hoje não volta, nada volta e nós temos apenas 24 horas pra poder fazer o melhor, ser melhor.
Quando acordamos temos duas opções: levantar e fazer daquele dia o melhor ou continuar com as velhas lamentações e viver só mais um dia como outro qualquer.
As oportunidades não são dadas duas vezes. A gente acredita que precisa de um choque, uma sacudida pra acordar ou de uma pessoa. Será a dona Francina? Realmente pode ser uma verdade. Mas vamos ficar esperando até quando? Esperar passar o tempo? Devemos agir pra mudar, pra transformar. Só assim as coisas vão tomando seu rumo e se ajeitando. Uma coisa leva a outra e nada é por acaso.
Como no dia em que eu troquei olhares com a senhora de 90 anos que me ensinou a não se preocupar tanto na vida. Que talvez o segredo de viver mais seja viver de bem com tudo e com todos. Sem reclamar e tornar as coisas mais difíceis do que elas são. Simples? Não sei, mas quero saber antes que o tempo passe e eu nem perceba. Como canta Lulu Santos “Não há tempo que volte..., vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir...”
Nas proximidades de uma pracinha simpática, na rua sete de setembro, na entrada do bairro Itacherê, que encontrei no fundo da rua, no meio de algumas árvores, o prédio da antiga estação férrea da cidade de São Borja. A curiosidade me alimentava.
Em cima dos velhos trilhos, observei tudo ao redor. O silêncio da rua e o fim da tarde me trazia um ar bucólico. Entusiasmado pela vontade de saber o que me esperava, comecei a fotografar. Decidi me aproximar e percebi que uma das janelas do prédio estava quebrada. Deu para observar seu interior e visualizar o abandono do lugar. A imaginação me levou a época em que a estação funcionava e era abrigada pelos passageiros. A bilheteria onde as passagens eram compradas, as escadas que davam acesso ao segundo andar, tudo me motivou a entrar nessa viagem ao tempo.
Segui na caminhada e ao lado, um pequeno portão de ferro estava aberto dando acesso à parte dos fundos da estação. Com a câmera na mão, registrei tudo. A sensação de abandono continuava. Tentei abrir uma das portas para entrar no prédio, mas não obtive sucesso. Estava bem fechado. Não contente, eu olho para cima e vejo a possibilidade de ter acesso ao segundo piso. Vejo se consigo subir pelas grades da janela e escalar até o parapeito da sacada. Temendo cair, neste exato momento, surge um guri experiente na tarefa de subir prédios abandonados. Ele ensina onde colocar o pé e a mão para não cair.
Tomado pela coragem que o guri me impôs, eu vou seguindo as recomendações a risca. Um pé de cada vez e a atenção com as mãos, permitem a chegada ao topo. Com um sorriso feliz e aliviado, misturado ao medo, começo a fotografar lá de cima. Observo algumas precariedades na construção, pedaços de madeira podre e vestígios de alguém que já morou naquele lugar. A janela entre-aberta elucida essa ideia e faz a imaginação mergulhar. O perigo e a sensação de descoberta fazem a realidade vir à tona.
O sol quase se pondo, avisa que é hora de ir embora. Voltando ao ponto de chegada, é a vez de descer. Com os pedaços da construção caindo no chão, parece que é uma aventura de alguém que está no cume de uma montanha de verdade. Com a mesma atenção e cuidado da subida, desço mais aliviado e chego à terra firme. Está quase noite, o tom vai mudando e a pergunta surge: Será um prédio mal assombrado? Não fiquei ali para descobrir. Preferi sair com a certeza de que várias histórias existem nesse lugar, onde muitas pessoas deixaram sua marca, indo e vindo no tempo.
Datado do ano de 1929, com influência dos imigrantes europeus e de uma arquitetura semelhante a outras estações da região, em 1938 a ramal que vinha de Dilermando de Aguiar, na linha Porto Alegre - Uruguaiana chegou até São Borja. Até 1981 existiam trens de passageiros até a cidade. No ano de 2004 a casa estava ocupada por um antigo ferroviário que morava com seu pai. Deixando o local para o executivo da cidade tomar conta e transformá-lo em centro cultural, algumas pessoas tentaram se instalar no prédio: sem sucesso. Atualmente administrado pelo DAC (Departamento de Assuntos Culturais), é um patrimônio local rico na história de toda uma geração.
Tarde dessas saí para caminhar na beira da praia, pensar na vida, admirar aquele marzão e depois contemplar o belo pôr-do-sol. Andava lá pela casinha de salva vidas número doze, quando me dei conta da quantidade de pessoas na areia. Até então não havia percebido, pois estava bem concentrado na tarefa de pensar em mim. Mas não é que aquelas pessoas desconhecidas começaram a me chamar a atenção? Cada grupo de família, um do lado do outro, preenchia cada espaço na areia. Com seu guarda-sol colorido ou de uma cor só, jogando, comendo, conversando, rindo ou apenas quietos. Cada família com suas histórias, todos com o bem comum de curtir aquela tarde de praia. Queria saber o que eles tinham pra contar, se eu poderia tirar dali alguma história interessante. Mas não é que deu uma vontade de comer um milho? O sol tava alto e as minhas costas ardiam. Lembrei que me esqueci de passar o protetor. Metade do caminho já andado eu não voltaria. O milho tava mais perto. Seguindo meu caminho, percebi que já tinha seguido o bastante pra poder sentar e começar a minha meditação. E foi isso que fiz. Com meus chinelos já gastos pelo uso, agachei e sentei de frente pro mar. Não hesitei em estar no meio do caminho e com minha solidão, cruzei as pernas e comecei a pensar. Pensei, pensei e só sabia pensar no bendito milho. A vontade de comer tava dando lugar à fome mesmo. Olhei pros dois lados e cadê o guri do milho? Nada dele aparecer. Olhava pra um lado, pra outro e nenhum sinal do carrinho. Voltei então pro meu estado de contemplar o marzão, quando ouço um grito de longe: - Olha o milho aeeee! Na hora eu me virei, levantei e procurei pelo grito. Ali perto do guarda-sol laranja vinha um carrinho de milho. Parei e no mesmo instante, o piá de uns 14 anos me solta:
- Hoje tá brabo de pegar uma “mina”! Desde cedo não consegui nada.
Eu ri e aproveitei a situação de intimidade que o guri me proporcionou. Todo atrapalhado em me atender e contar a sua história, ele me contou que tava difícil aquele dia de vendas e que antes de chegar a praia ele e um amigo se meteram numa confusão no ônibus e ele tinha que se cuidar pra não ser pego. Pediu pra eu escolher o milho e eu disse que podia ser qualquer um. Já no fim da tarde, aquele milho já não estava quentinho. Pedi uma água sem gás. Ele continuava contando da dificuldade de ‘pegar uma mina’ e eu dava motivação pra ele:
- Logo mais em frente tu consegues uma, tem bastante praia ainda.
E ele:
- É verdade, quase consegui antes, tava quase lá, mas a vó dela tava por perto, aí não deu.
E eu:
- Poxa cara, mas não desiste, vai em frente!
Então eu lhe dou o dinheiro e o guri atrapalhado e nervoso pra encontrar uma ‘mina’ e com um receio de ser pego pelo cara do ônibus, me dá o troco. Espero ele se dar conta que deu errado, e não se dando conta eu digo:
-Te dei uma nota de dez.
- Ah é verdade, desculpa aí!
E o guri se vai, empurrando seu carrinho, mais preocupado em pegar alguma “mina”, do que vender. Naquele dia o ganho dele era a “mina”. E eu me sentei de novo ao meu lugar e comi meu milho, admirando o mar e pensando no futuro que espera o guri, se ele estuda, se tem pais, o porquê está vendendo milho. Queria saber mais sobre aquele piá, mas eu me contive. Quem sabe um dia eu encontre ele de novo e pergunte. Preferi comer meu milho mesmo. Deu sede. Ao abrir a garrafa de água, ouvi o barulhinho. Era água com gás. Dei risada e depois da fome saciada, segui com minha espera pela praia vazia, pelo vento da noite, o silêncio do mar e o pôr-do-sol. Meu ganho aquele dia era o pôr-do-sol, a “mina” eu deixo pro guri do milho!
Época de veraneio pra mim, sempre teve aquela cara de dias longos, sem nada pra fazer, só de pernas pro ar. A brisa do mar, o sol torrando a pele e ardendo depois. Medo da mãe d’água e do siri. Protetor espalhado por aí, sacolinha de lixo lá, frescobol, guarda-sol e churrasquinho. Abre cadeira, fecha cadeira. Procurar lugar pra estacionar, visitar os molhes, andar de vagoneta, escutar o tio gritando: - olha o camareeeuu... (pra quem conhece o Cassino sabe do que falo!). Areia no carro, em casa, na cama, em tudo. Comilança, comprança e aquela gostosa preguiça. Milho, cerveja, caipirinha e mais areia atrás da gente. Há tempos atrás eu achava tudo isso um saco, vivia de cara amarrada por ter que veranear por quinze dias, uma semana tava ótimo. Oh coisa boa que eu mudei de ideia! Agora achei algo pra fazer: me conhecer e aprender a conviver comigo. Muita coisa nova tá surgindo, descobri ser fã de crônica, do David Coimbra e da rádio Atlântida, de novela, filme brasuca e palavras cruzadas. Nunca pensei que passaria horas vidrado, querendo desvendar as palavrinhas nos quadradinhos. Até de acordar cedo eu tô gostando e voltando a ler também, oh saudade desse hábito! Estou conseguindo me renovar e é maravilhoso saber que a gente consegue fazer isso, basta querer. Outra coisa que eu me surpreendi e constatei é que o tempo tá passando rápido e eu tô ficando velho. Nestes meus vinte um anos de vida marota eu começo a dar valor pra certas coisas deixadas de lado. Entendo que a culpa é da minha saída de casa pra estudar fora e começar a tentar viver minha vida. Sinto falta da minha família e vejo o quanto eles são importantes pra mim. Pode ser tarde demais pra isso, mas pelo menos tô me dando conta. Brigas, puxação de pé e hora certa pra chegar em casa, eu tava sentindo falta disso. Muita gente não tem a honra e a oportunidade de passar por essa fase. Eu me orgulho em dizer que meus pais tão juntos comigo. A gente cresce e amadurece e sabe quando isso acontece.Cada dia é uma chance pra poder fazer diferente e rever o que importa pra seguir adiante. Não tenho mais aquela inocência de criança e entendo que meus dias tão diminuindo e dos meus pais então... Novos olhares, novas perspectivas, velhas vontades, velhas manias, tudo se completa, tudo faz parte da gente. O mais gostoso é saber que podemos mudar e ainda assim continuar a mesma pessoa. Enfrentar fila de mercado, banco e padaria, engarrafamento e mosquitada. Andar de bicicleta, comer sorvete e brincar com a irmã. Ficar embaixo da árvore, catar uma fruta, olhar o céu, as nuvens, o sol e as estrelas. Pra mim, tudo isso e mais um pouco é o que tem se tornado as férias de verão, férias de verdade, onde a gente não consegue ficar sem fazer nada e reconhece que faz um bem enoooooorme, do tamanho do grito do tio do: - olha o camareeeuu... pode acreditar!